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PUC-SP instaura comissão para apurar conduta de alunos acusados de atos racistas em jogos universitários

Polícia analisa vídeos apresentados pelas vítimas. Quatro estudantes da universidade já foram demitidos após serem apontados como autores das ofensas racis...

PUC-SP instaura comissão para apurar conduta de alunos acusados de atos racistas em jogos universitários
PUC-SP instaura comissão para apurar conduta de alunos acusados de atos racistas em jogos universitários (Foto: Reprodução)

Polícia analisa vídeos apresentados pelas vítimas. Quatro estudantes da universidade já foram demitidos após serem apontados como autores das ofensas racistas e classistas contra alunos cotistas da USP. Alunos da PUC atacam alunos cotistas da USP durante jogos universitários A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) informou nesta terça-feira (19) que instaurou uma comissão para apurar a conduta de alunos da Faculdade de Direito acusados de atos racistas durante jogos universitários realizados em Americana, no interior do estado. No episódio, ocorrido no fim de semana, pelo menos cinco estudantes são acusados de terem cometido no último sábado (16) atos discriminatórios contra alunos bolsistas da Universidade de São Paulo (USP). Eles teriam gritado frases racistas e classistas durante uma partida de handebol masculino entre as instituições. A comissão, instaurada na segunda (18), é formada por três docentes da faculdade, que, segundo a PUC, são profissionais com ampla experiência em processos de apuração e sindicância. "O objetivo da comissão é apurar possível infração educacional e os trabalhos deverão ser concluídos em até 40 dias. Todos os envolvidos terão amplo direito à defesa", afirmou a PUC. O caso foi registrado como preconceito de raça ou de cor e é investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os vídeos apresentados pelas vítimas estão sob análise da equipe de investigação. Demissões Quatro alunos apontados como autores dos ataques foramdemitidos dos escritórios de advocacia em que estagiavam. Tatiane Joseph Khoury, de 20 anos, Matheus Antiquera Leitzke, de 20, Marina Lessi de Moraes, de 23, e Arthur Martins Henry, de 23, foram desligados após serem identificados por uma "força-tarefa" de alunos das universidades envolvidas, a partir de vídeos e fotos do episódio. A estudante Cecília Sales Braga, de 19 anos, que também aparece nas imagens, foi afastada do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da PUC. O g1 tenta contado com a defesa de todos os acusados. A Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) repudiou o episódio e cobrou a responsabilização dos envolvidos. "É imperativo que sejam tomadas medidas necessárias para a rigorosa apuração dos fatos e a devida responsabilização dos envolvidos. Como instituição comprometida com a defesa do Estado Democrático de Direito e com os valores fundamentais da sociedade, a OAB SP espera que aqueles que representam a advocacia ajam com responsabilidade, integridade e respeito aos preceitos éticos que sustentam a profissão", disse por meio de nota. O que dizem as faculdades Em nota conjunta divulgada no domingo, as diretorias das faculdades de direito envolvidas e os centros acadêmicos de ambas as instituições repudiaram o que chamaram de "lamentáveis episódios" e se comprometeram a investigar o caso, visando responsabilizar os envolvidos. "Essas manifestações são absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas, historicamente defendidos por nossas instituições. Diante disso, as entidades signatárias comprometem-se a apurar rigorosamente o caso, garantindo a ampla defesa e o devido processo legal, e a responsabilizar os envolvidos de maneira justa e exemplar", diz a nota. A reitoria da PUC também repudiou o episódio e disse que os fatos serão apurados "com o rigor necessário, a partir das normas universitárias e legais, promovendo a responsabilização e conscientização dos envolvidos". Em entrevista à TV Globo, a reitora da PUC-SP, Maria Amália Andery, ainda disse que é "é imperdoável que um estudante universitário da área de direito se sinta no direito de dizer que despreza o outro, tenha preconceito com o outro porque o outro é diferente dele. Eu considero que seria imperdoável em qualquer caso, é mais imperdoável no caso de um estudante universitário do Direito da PUC-SP, que é uma universidade que sempre presou por construir uma posição humanista, democrática e republicana. A gente tem tolerância zero a atitudes de discriminação e de preconceito. Demonstrado isso, esses alunos terão as consequências previstas em regimento que vão desde repressão, passam por suspensão e chegam a expulsão". Abaixo, veja a íntegra da nota conjunta: "As Diretorias das Faculdades de Direito da USP e da PUC-SP e os Centros Acadêmicos XI de Agosto e 22 de Agosto das duas instituições vêm a público manifestar repúdio aos lamentáveis episódios ocorridos nos Jogos Jurídicos de 2024. Durante o evento, um grupo de alunos da Faculdade de Direito da PUC-SP proferiu manifestações preconceituosas contra estudantes da Faculdade de Direito da USP, utilizando o termo “cotistas” de forma pejorativa. Essas manifestações são absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas, historicamente defendidos por nossas instituições. Diante disso, as entidades signatárias comprometem-se a apurar rigorosamente o caso, garantindo a ampla defesa e o devido processo legal, e a responsabilizar os envolvidos de maneira justa e exemplar. Reconhecemos que a segregação social ainda é um desafio no Brasil, mas entendemos que o ambiente universitário deve atuar como um espaço de reparação e transformação. Incidentes como este reforçam a urgência de combatermos todas as formas de hostilidade no meio acadêmico. Festas e jogos universitários devem ser momentos de integração, congraçamento e solidariedade, não de ódio, violência e intolerância, como não raramente se vê. A luta pela superação de uma cultura de violência nesses espaços depende do engajamento de todos e todas. Além da responsabilização dos envolvidos, é indispensável avançarmos na direção de políticas preventivas e de acolhimento. Planejamos implementar protocolos que fortaleçam ouvidorias, promovam a prevenção e a educação antirracista e assegurem um ambiente inclusivo e respeitoso para todos os alunos e alunas. Essa é uma demanda frequente da comunidade acadêmica, que exige ações concretas e eficazes. Estamos determinados a transformar este episódio em um marco para o fortalecimento de uma cultura de respeito, equidade e inclusão em nossas instituições. FACULDADE DE DIREITO DA USP, FACULDADE DE DIREITO DA PUC-SP, CENTRO ACADÊMICO XI DE AGOSTO e CENTRO ACADÊMICO 22 DE AGOSTO"