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Mel de chocolate? Cientistas brasileiros fazem descoberta ao extrair compostos de cascas de cacau

'Mel de chocolate'? Cientistas brasileiros fazem descoberta ao extrair compostos de cacau Pesquisadores brasileiros descobriram uma forma inteligente de reaprov...

Mel de chocolate? Cientistas brasileiros fazem descoberta ao extrair compostos de cascas de cacau
Mel de chocolate? Cientistas brasileiros fazem descoberta ao extrair compostos de cascas de cacau (Foto: Reprodução)

'Mel de chocolate'? Cientistas brasileiros fazem descoberta ao extrair compostos de cacau Pesquisadores brasileiros descobriram uma forma inteligente de reaproveitar as cascas de cacau que são descartadas na produção de chocolate e seus derivados para desenvolver um mel enriquecido por compostos encontrados na casca de amêndoa do cacau. O produto, desenvolvido por pesquisadores de Limeira (SP), cientistas da Universidade de Campinas (Unicamp), é feito a partir de mel de abelhas nativas do Brasil. O mel enriquecido, que tem 'sabor de chocolate' pode consumido ou utilizado, no futuro, pelas indústrias alimentícia e cosmética, devido às suas propriedades. 🍯 Na fabricação do 'mel de chocolate, o mel de abelhas nativas é usado como 'solvente' natural. Ele age na extração de substâncias como cafeína, teobromina e antioxidantes das cascas do cacau . 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Felipe Sanchez Bragagnolo, primeiro autor do estudo, afirma que a ideia surgiu do interesse em valorizar produtos brasileiros. O interesse dele também decorreu da complexidade dos méis de abelhas nativas - que se diferencial nos aspectos sensoriais, de sabores e suas características. (leia mais abaixo) No atual processo entre o plantio do cacau e a produção industrial de seus derivados, as cascas costumam ser descartadas. O reaproveitamento em larga escala, se aplicado, além de reduzir os resíduos do setor, pretende entregar um mel enriquecido em bioativos. "A casca das amêndoas de cacau constitui aproximadamente 20% do peso da amêndoa e poderão ser usadas para que seja produzido o subproduto", ressalta o pesquisador. Recipiente contendo mel de abelha usado em pesquisa da Unicamp, em Limeira (SP) Reprodução/EPTV 🌱 De acordo com o IBGE, a quantidade de cacau produzida no Brasil no ano passado foi de 297,5 toneladas. O Estado que concentrou a maior produção foi o Pará. Patente 🖋️ Os processos desenvolvidos na pesquisa estão protegidos por patente. O estudo da universidade paulista é vinculado à Agência de Inovação da Unicamp (Inova). Para a pesquisa, as cascas de cacau foram fornecidas gratuitamente pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), em São José do Rio Preto (SP), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Os benefícios do cacau para a saúde e o envelhecimento, segundo a ciência O que faz o mel ser 'eterno' e não estragar? Por que o chocolate enfrenta uma ameaça existencial? Compostos contidos nas cascas de amêndoa do cacau usados para enriquecer mel por pesquisadores da Unicamp em Limeira (SP) Reprodução/EPTV Entenda no infográfico abaixo como é o processo de extração dos bioativos da amêndoa do cacau e seus possíveis impactos. Infográfico: entenda o processo para produção do mel com sabor de chocolate Arte/g1 Mel de abelhas sem ferrão O mel de abelhas nativas, sem-ferrão, foi escolhido para atuar como 'solvente' no beneficiamento da amêndoa do cacau por possuir maior quantidade de água e apresentar menor viscosidade do que o da abelha-europeia (Apis mellifera), segundo o pesquisador. "O mel da abelha europeia é mais viscoso devido ao menor teor de água. Já o mel das abelhas sem ferrão possui maior conteúdo de água, o que o torna menos viscoso e, portanto, mais adequado para processos de extração [de bioativos]", explica. Foram testados na pesquisa méis de cinco espécies brasileiras, sendo elas: borá (Tetragona clavipes), jataí (Tetragonisca agustula), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), mandaguari (Scaptotrigona postica) e moça-branca (Frieseomelitta varia). Abelha mandaguari, abelha mandaçaia, abelha jataí, abelha borá e abelha moça-branca Felipe Sanchez Bragagnolo/acervo pessoal / Felipe Sanchez Bragagnolo/acervo pessoal / Felipe Sanchez Bragagnolo/acervo pessoal / Fototeca Cristiano Menezes/FCM-USP / Fototeca Cristiano Menezes/FCM-USP A pesquisa trabalhou com o mel da mandaguari (de abelhas nativas) devido aos valores intermediários de água e viscosidade, mas é possível adaptar o processo de produção ao mel que estiver disponível localmente, de acordo com Felipe. Valorização das abelhas nativas 🐝 A iniciativa espera contribuir para a valorização das abelhas nativas do Brasil. Em entrevista ao g1, Bragagnolo contou que aprecia as abelhas-sem-ferrão e que acredita que a pesquisa pode contribuir para trazer visibilidade e valor aos produtos derivados destas espécies. "Alguns restaurantes da alta gastronomia já utilizam esses méis e há potencial para que cooperativas e produtores locais também adotem a abordagem, diversificando seus produtos". Ele indica que o mel enriquecido pode ser usado como calda em cafeterias e restaurantes que busquem produtos com origem na biodiversidade nacional. O produto também possui aplicações na indústria cosmética, como ingrediente funcional, graças aos bioativos do mel e do cacau, que funcionam como antioxidantes e anti-inflamatórios. Quando o produto chega ao mercado? Contudo, ainda não há previsão de quando o produto pode chegar ao mercado. O grupo busca por parceiros interessados em desenvolver o processo em larga escala, o que depende de negociação junto à Agência Inova. 🔎 Qual o papel da Inova? A Agência de Inovação da Unicamp faz a ponte entre a universidade e empresas ou cooperativas interessadas. Como o processo está protegido por patente, a agência é responsável por intermediar as negociações. Pesquisador Felipe Sanchez Bragagnolo segurando recipientes com méis de mandaçaia, borá e jataí Reprodução/EPTV Extração de bioativos O processo de produção do 'mel de chocolate' utiliza a casca do cacau, mel de abelha nativa e extração assistida por ultrassom. Nela, o equipamento emite ondas sonoras de alta frequência que causam a formação e o colapso de microbolhas no solvente (mel). Estas "explosões internas" quebram a estrutura do material vegetal, facilitando a liberação dos bioativos para o mel. "Quando preparamos uma infusão ou chá, estamos realizando uma extração. Os compostos da planta migram para a água. No nosso caso, usamos as cascas das amêndoas de cacau como material vegetal e o mel de abelhas-sem-ferrão como solvente, o que é uma combinação bastante inovadora", explica. 🍫 Gosto de chocolate? Pesquisadores da Unicamp de Limeira desenvolvem mel com sabor de chocolate É isso mesmo! O objetivo dos pesquisadores era apenas extrair compostos bioativos, mas o mel adquiriu um aroma marcante de chocolate e sabor de cacau. "Durante o processo, notamos que o mel adquiriu um aroma marcante de chocolate. Em avaliações informais, percebemos também um leve sabor de cacau, um efeito curioso e inesperado", afirma Bragagnolo. Extrato produzido com cascas da amêndoa de cacau usado em pesquisa da Unicamp, em Limeira (SP) Reprodução/EPTV Cacau no Brasil O cenário do mercado de cacau enfrenta desafios no Brasil, que é o sexto maior produtor da commodity no mundo. Eventos climáticos e doenças fúngicas afetaram a produção, especialmente na Bahia e no Pará, que tiveram quedas de 27,7% e 59,9% no primeiro semestre de 2025, respectivamente, em comparação com 2024. A moagem de cacau manteve trajetória de queda no 3º trimestre de 2025, segundo dados divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) na segunda quinzena de outubro de 2025. "Foram processadas 46,1 mil toneladas, recuo de 16,6% em relação ao mesmo período de 2024. No acumulado de janeiro a setembro, o total de 144 mil toneladas representa queda de 15,1% frente a 2024, segundo dados do SindiDados – Campos Consultores, divulgados pela AIPC", especifica a associação. Maior produção de cacau está concentrada no Pará Rafael Peixoto/g1 Produção de chocolate e mel O g1 ouviu um fabricante de chocolate da região de Piracicaba (SP) para saber o que os produtores acharam da descoberta e entender quais são as principais expectativas da indústria que se beneficia do cacau em relação à descoberta do mel com sabor de chocolate w suas potenciais aplicações. O engenheiro agrônomo, ambientalista e fundador de uma fábrica de chocolate, Warwick Manfrinato, demonstrou entusiasmo pelas novidades e resultados da pesquisa da Unicamp. “Para nós que produzimos chocolate é muito importante ter novidades. Sempre procuramos novas receitas, novas fronteiras do sabor [...]. Então, o mel como um extrator de substâncias dos resíduos da cadeia do cacau, para mim, foi uma novidade fantástica", disse. Warwick Manfrinato é fundador da chocolateria Alma da Mata em Piracicaba Claudia Assencio/g1 O produtor se mostrou curioso em relação a possíveis desdobramentos da pesquisa e como o mel poderá ser aproveitado. Manfrinato apontou os benefícios possíveis para a cadeia produtiva do cacau. "Quando olhamos para a cadeia total do cacau, desde a produção agrícola até que consumidor final de um produto, tem um potencial da agregação de valor enorme. É preciso entender que há possibilidade de se recuperar valor ao longo dos processos, inclusive dos resíduos, avalia . O comerciante que vende mel em Limeira, Brás Mendes da Silva, conta que o mercado do mel mudou com o passar dos anos. Apesar da variedade incorporada no setor, ele indica que os consumidores buscam confiança. "As pessoas estão buscando por qualidade, então, procuram méis de qualidade, méis certificados e de lugar que tenha essa procedência". *Sob supervisão de Claudia Assencio. VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e Região de mel de abelhas nativas é usado como 'solvente' natural. Ele age na extração esubstâncias como cafeína, teobromina, que parecida com a cafeína, e antioxidantes poderosos. Veja outras notícias sobre a região no g1 Piracicaba