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Lagartixa doméstica: a hóspede africana que conquistou os lares brasileiros

Hemidactylus mabouia registrada em Cidreira (RS) amandapmarcon / iNaturalist Elas estão por toda parte. Nas paredes, tetos e cantinhos iluminados das casas e o...

Lagartixa doméstica: a hóspede africana que conquistou os lares brasileiros
Lagartixa doméstica: a hóspede africana que conquistou os lares brasileiros (Foto: Reprodução)

Hemidactylus mabouia registrada em Cidreira (RS) amandapmarcon / iNaturalist Elas estão por toda parte. Nas paredes, tetos e cantinhos iluminados das casas e outros imóveis. Silenciosas e de aparência discreta, as lagartixas domésticas (Hemidactylus mabouia) são tão comuns que muita gente nem se pergunta de onde vieram. E apesar de estarem sempre presentes em nossas casas, este réptil é exótico, sendo nativo do continente africano. De acordo com a literatura científica, a espécie chegou ao Brasil há séculos, provavelmente escondida nos navios negreiros ou embarcações de passageiros que cruzavam o Oceano Atlântico. Segundo o herpetólogo Willianilson Pessoa, a principal hipótese é que os navios, ao ficarem dias atracados em portos estrangeiros, permitiram que as lagartixas embarcassem. Já em solo brasileiro, os mesmos navios passavam dias nos portos. Tempo suficiente para que os animais descessem e encontrassem clima favorável, fartura de insetos e um refúgio de predadores – as casas dos brasileiros. Com isso, a Hemidactylus mabouia se espalhou por todo o território nacional e, hoje, também ocorre em diversos países das Américas Central, do Sul e do Norte. Embora seja considerada uma espécie invasora do ponto de vista biológico (ou seja, uma exótica sem predadores naturais no novo ambiente), Pessoa explica que não há registros de que a lagartixa doméstica tenha causado impactos negativos diretos em espécies brasileiras. Lagartixas domésticas auxiliam no controle de insetos marcus10383 / iNaturalist Existem, inclusive, outras espécies do mesmo gênero nativas do Brasil, como a Hemidactylus brasilianus e a Hemidactylus agrius, endêmicas da Caatinga. No dia a dia, a lagartixa é aliada no controle de pragas urbanas. “As pessoas dizem que o animal invadiu a casa. Mas quem invadiu o ambiente natural foram os humanos. Então o bicho foi se deslocando e terminou entrando, mas ele não tem ética moral, raciocínio para saber que ali é a casa de alguém”, comenta ao criticar a aversão que algumas pessoas têm pelo réptil. Informações e curiosidades Na dieta das lagartixas domésticas, estão principalmente de artrópodes - como insetos e aranhas. Para captura-los, usa uma estratégia de caça bastante eficiente: costuma ficar próxima das lâmpadas, esperando suas presas serem atraídas pela luz. Além de não representarem risco à saúde pública, essas lagartixas cumprem um papel ecológico importante. Diversas espécies de aves, serpentes, mamíferos e até grandes aranhas se alimentam delas, incluindo em ambientes naturais isolados, como áreas da Amazônia. Curiosas por natureza, as Hemidactylus mabouia têm algumas particularidades. Não há diferença de cor entre machos e fêmeas, mas há variação no tamanho da cabeça. Além disso, elas conseguem mudar de cor graças aos cromatóforos ativos existentes em seus corpos, podendo ir do quase translúcido ao escuro conforme a luz. “Você vê elas bem clarinhas na parede, por exemplo, mas se de repente você apagar a luz e deixar escuro, ela vai estar bem mais escura, porque ela responde quase que instantaneamente à mudança de ambiente. Elas também perdem a cauda muito facilmente como sistema de defesa”. Répteis de origem africana se espalharam pelas Américas há séculos noe_palomita / iNaturalist E talvez o fato mais impressionante desses pequenos répteis seja a capacidade de andar de cabeça para baixo. Isso é possível graças às forças de van der Waals, um fenômeno físico que, somado às lamelas adesivas nos dedos e garras adaptadas, garante a aderência do animal até nas superfícies mais lisas, como o vidro. “Quando ela pisa no vidro, ocorre atração para mantê-la grudada, depois ocorre repulsão para que ela possa desgrudar e assim por diante”, explica o pesquisador. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente