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Entenda operação que desarticulou plano do PCC para matar promotor e diretor de presídios em SP

Entenda o plano descoberto do PCC para matar promotor e coordenador de presídios de SP O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil deflagra...

Entenda operação que desarticulou plano do PCC para matar promotor e diretor de presídios em SP
Entenda operação que desarticulou plano do PCC para matar promotor e diretor de presídios em SP (Foto: Reprodução)

Entenda o plano descoberto do PCC para matar promotor e coordenador de presídios de SP O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil deflagraram, na sexta-feira (24), uma operação que revelou um plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para executar o promotor de Justiça Lincoln Gakiya e o coordenador de presídios Roberto Medina, ambos com atuação na região de Presidente Prudente (SP). De acordo com as investigações, os criminosos alugaram uma casa de luxo a menos de um quilômetro do condomínio onde vive o promotor e usaram até drones para monitorar por meses a rotina dele e de Medina. As ordens para os ataques partiram de dentro de presídios federais e seriam executadas por integrantes da facção em liberdade. Ao todo, 25 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em sete cidades do interior paulista. O caso é investigado pelo Gaeco e pela Seccional de Presidente Prudente. O g1 reuniu o que se sabe sobre o caso até agora: Como foi a operação? Como as autoridades descobriram o plano de assassinato? Quem eram os alvos jurados de morte? Como era o plano do PCC? Quem são os investigados? O que foi apreendido? O caso tem relação com a morte do ex-delegado-geral Ruy Ferraz? O promotor jurado de morte pretende deixar o país? Como foi a operação? Criminosos do PCC alugaram casa a menos de 1 km de onde promotor mora para monitorar a rotina dele Reprodução A Operação Recon foi deflagrada após o MP e a Polícia Civil identificarem uma célula do PCC encarregada de mapear e atacar autoridades públicas ligadas ao combate ao crime organizado. Os investigadores descobriram que o grupo havia feito levantamentos detalhados sobre os hábitos e deslocamentos de Gakiya e Medina, além de suas famílias. As informações foram compartilhadas entre os criminosos em aplicativos de mensagem e relatórios de inteligência. Segundo o MP, tratava-se de uma estrutura compartimentada, com funções definidas e disciplina interna para dificultar a descoberta do plano de assassinato do promotor e do coordenador de presídios. Como as autoridades descobriram o plano de assassinato? Criminosos alugaram casa próxima à casa de Gakiya Reprodução A investigação começou em julho após a prisão em flagrante do suspeito Vitor Hugo da Silva, conhecido como “VH”, por tráfico de drogas. O celular apreendido com ele revelou fotos, vídeos e mensagens descrevendo a rotina do coordenador de presídios Roberto Medina. O material incluía trajetos entre casa e trabalho e até filmagens de campana feitas em veículos e motos. A partir desses dados, os investigadores chegaram a outros suspeitos, como Wellison “Corinthinha” e Sérgio “Messi”, que também trocavam mensagens sobre os alvos. Em um dos aparelhos, havia prints do trajeto diário do promotor Lincoln Gakiya. Quem eram os alvos jurados de morte? O promotor de Justiça Lincoln Gakiya e do coordenador de presídios Roberto Medina, da Secretaria de Administração Penitenciária. Montagem/g1/Reprodução/TV Globo Os alvos principais eram Lincoln Gakiya, promotor que atua no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e investiga o PCC há mais de 20 anos, e Roberto Medina, responsável por presídios que abrigam líderes da facção. Gakiya vive sob escolta policial 24 horas desde 2005, depois de receber repetidas ameaças da facção. Ele foi o autor do pedido que resultou na transferência de 22 chefes do PCC, incluindo Marcola, o líder da facção, para presídios federais em 2019 — decisão que ampliou as ameaças contra sua vida. Medina, que não tinha proteção pessoal, foi monitorado de perto. Segundo Gakiya, a investigação “salvou a vida” do coordenador de presídios. Como era o plano do PCC? Promotor Lincoln Gakiya fala sobre operação que mira plano do PCC para matar autoridades em SP O plano do PCC envolvia espionagem e vigilância constante. Os criminosos alugaram uma casa a menos de 1 km da residência do promotor, usada como base para monitorar seus deslocamentos e acompanhar a rotina de policiais de escolta. Imagens de drones mostraram reuniões na casa, que também funcionava como ponto de distribuição de drogas. O grupo planejava atacar o promotor no trajeto até o trabalho. Segundo o MP, as ordens para as execuções foram transmitidas pela “Sintonia Restrita”, braço da cúpula do PCC responsável por atentados. Os comandos saíam dos presídios por meio de visitas e advogados, em mensagens codificadas. Quem são os investigados? Jefferson Santana ('Proibido'); Diego Lima (Lima); Wellison Almeida ('Corinthinha'); Victor Silva ('Falcão'); e Sergio Silva ('Messi') estão presos por tráfico Reprodução Oito pessoas foram identificadas como integrantes da célula do PCC. Cinco suspeitos já estavam presas por tráfico: Jefferson Douglas Braz Santana (“Proibido”); Diego da Silva Lima (“Lima”); Wellison Rodrigo Bispo de Almeida (“Corinthinha”); Victor Hugo da Silva (“Falcão”); Sérgio Garcia da Silva (“Messi”). A partir da prisão deles e da apreensão de seus celulares, que ocorreu entre julho e setembro deste ano, descobriu-se o plano para matar Gakiya e Medina. Outros três investigados tiveram seus imóveis vasculhados pela polícia: Luiz Guilherme Lima da Silva, o "Portuga": responde em liberdade. Segundo a investigação, manteve contato com "Messi" para dar sequência ao plano de matar autoridades; Thiago da Silva: foi preso em flagrante nesta sexta, mas por tráfico de drogas (estava com 3 kg de cocaína em casa). De acordo com a polícia, ele negociou a compra de um fuzil em nome do PCC. Também teve ligação com "Messi" e "Portuga"; Adilson Audinir Oliveira Júnior, o "Ju Machado": responde em liberdade. A investigação aponta que ele manteve contato com "Messi" para participar do plano contra as autoridades. A Justiça também determinou a quebra de sigilos telefônico e telemático dos investigados. O que foi apreendido? Vídeo mostra como integrantes do PCC traçaram trajeto percorrido por Medina Durante a operação, a polícia recolheu celulares, notebooks, drogas e documentos usados pelos criminosos. As análises dos aparelhos confirmaram que os investigados já haviam mapeado os trajetos e hábitos das vítimas, em um plano “meticuloso e audacioso”, segundo o MP-SP. Os investigadores afirmam que novas provas podem levar à identificação de outros envolvidos e à cadeia de comando da facção responsável pelas ordens. No total, a Operação Recon cumpriu 25 mandados de busca e apreensão. Os mandados estão distribuídos nas cidades paulistas de Presidente Prudente (11), Álvares Machado (6), Martinópolis (2), Pirapozinho (2), Presidente Venceslau (2), Presidente Bernardes (1) e Santo Anastácio (1). O caso tem relação com a morte do ex-delegado-geral Ruy Ferraz? Ruy Ferraz Fontes foi executado em 15 de setembro em Praia Grande, SP Reprodução/Prefeitura de Praia Grande e Polícia Civil A Polícia Civil diz que ainda não há ligação direta comprovada, mas as investigações apontam coincidências. O monitoramento de Gakiya e Medina começou no mesmo período em que um carro suspeito passou a seguir o ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado a tiros em setembro. Segundo o promotor Lincoln Gakiya, a ordem (“salve”) que mandava matar o ex-delegado também determinava sua execução e a de Medina. Os três estariam incluídos em uma lista de retaliações do PCC contra autoridades que atuaram em transferências e ações contra a facção. O promotor jurado de morte pretende deixar o país? Promotor Lincoln Gakiya conta que criação do PCC foi uma reação ao chamado 'massacre do Carandiru', em 1992 Ainda não se sabe. Após a operação que desarticulou o plano do PCC, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, jurado de morte pela facção há quase 20 anos, afirmou que deixar o Brasil após a aposentadoria representaria “a falência do Estado brasileiro”. Gakiya vive há mais de uma década sob escolta policial 24 horas por dia, medida adotada após sucessivas ameaças de morte. Ele afirmou ainda que uma eventual fuga não seria apenas uma questão pessoal, mas um símbolo do abandono das instituições a quem combate o crime organizado. “Não é o promotor Lincoln Gakiya que está fugindo do país para continuar vivo. É toda uma história de combate que vai por terra. E novos colegas não vão se sentir encorajados a continuar esse trabalho se forem deixados sozinhos no futuro”, declarou. Gakiya ressaltou ainda que não será perdoado pela facção, em razão de ter sido o responsável pela transferência de chefes do PCC para presídios de segurança máxima em 2019, decisão que desencadeou uma série de novas ameaças contra ele.